É muito comum ver em grupos de discussão algumas pessoas reclamando constantemente sobre a crise do Petróleo e outras dizendo que “por aqui não falta trabalho”. Parece mentira, mas ambas são verdadeiras.
Quem está planejando imigrar, logo se preocupa com a veracidade das informações, se confunde com a disparidade entre as fontes de pesquisa e acaba arriscando abandonar o projeto depois de incansáveis horas de dados desencontrados.
Nesta matéria, vamos ajudá-los a entender um pouco mais sobre os níveis de trabalho, como se posicionar no mercado de trabalho e construir uma carreira no Canadá.
No Brasil, temos a jornada de trabalho padrão de 8 horas diárias e 44 horas semanais. O salário mínimo é baseado no pagamento mensal e é através do valor mensal que as pessoas se baseiam quando estão procurando ou recebendo ofertas de emprego.
Por aqui é diferente, os canadenses observam o valor da hora de trabalho e o montante que fazem por ano. A princípio o sistema é complicado, mas uma vez que passamos a calcular o preço de cada hora do nosso dia valorizamos mais o nosso tempo e o tempo do outro. Deixando de lado reflexões sobre esse tema específico para outra ocasião vamos a uma comparação básica:
Salário mínimo no Brasil em 2021 (fonte www.trabalho.gov.br) |
Salário mínimo na província de Alberta em 2018 (fonte: www.alberta.ca) | |
Hora | R$ 6,25 | C$ 15,00 |
Mês (considerando uma jornada de 44h/ semanais para ambos) | R$ 1.100,00 | C$ 2.640,00 |
Ano | R$ 13.200,00 | C$ 31.680,00 |
Esse é o valor bruto e em ambos os casos sabemos que há desconto de impostos. Além disso, o salário mínimo varia de província para província. Alberta é a província que tem o maior valor hora do Canadá, C$15,00/h.
Aqui no Canadá os contratos são “full time”, com jornada de 40 horas semanais e “part time” com jornada de 20 horas semanais.
Residentes permanentes, cidadãos e residentes temporários com work permit podem trabalhar tanto 40 horas semanais em uma mesma empresa, quanto 20 horas semanais em duas empresas diferentes ou ainda 20 horas em uma empresa e as outras 20 horas dedicar-se a outras atividades.
Já os residentes temporários com visto de estudo, podem trabalhar apenas 20 horas e as outras 20 horas são dedicadas ao curso que está sendo realizado.
Vistos de turista ou vistos para curso de inglês não dão direito ao work permit.
Essa é a definição de trabalho para quem está ingressando no mercado, seja cidadão canadense ou não.
São os trabalhos em redes de fast food, restaurantes, empresas de limpeza, vendedores de shopping e quaisquer outros que possam ser executados com rápido treinamento e não precisam de investimento em cursos por parte do empregado. Caracterizados pela alta rotatividade e rápida contratação, esse tipo de trabalho sempre tem demanda e por isso, é a porta de entrada no mercado.
Devido à alta taxa de imigrantes de diferentes países e idades, é comum ver pessoas dos mais diversos perfis desempenhando essas tarefas: um doutorando pode muito bem estar desenvolvendo uma pesquisa na universidade e trabalhando como atendente em um café, assim como um gerente de vendas de uma empresa pode ser garçom em um restaurante aos finais de semana. Survival jobs são tanto uma porta de entrada, como uma forma fácil de complementar a renda ou ganhar uma grana extra.
Esses são os trabalhos almejados por aqueles que passam por um college ou universidade no Canadá.
Esse tipo de trabalho é mais demorado de conseguir e o processo é parecido com o que enfrentamos no Brasil: análise de currículo e entrevistas.
Estudantes começam a enviar currículos para empresas com um ano de antecedência à data do término do curso. Aqueles que já vêm para cá com um curso técnico ou faculdade e não realizaram a equivalência do diploma não devem deixar de mencioná-lo no currículo.
Um diferencial é ter no currículo o seu histórico de atividades extras realizadas, como trabalhos voluntários, estágio, participação em eventos, cursos de verão. Nessa etapa toda experiência é importante para construir um bom “background” e chamar atenção dos empregadores.
Historicamente, os meses de março a julho são os meses favoritos pelas empresas para novas contratações em sênior jobs. Atualmente é muito mais fácil se candidatar para diversas vagas e fazer as entrevistas através da internet, mas quando a busca por trabalho era feita através de entrega de currículos porta a porta, era complicado fazer isso nos meses de outono e inverno.
É importante se planejar para esse período e assim, evitar frustrações. Já para survival jobs a colocação no mercado é contínua, já que não há necessidade de mão de obra especializada.
Quem está se preparando para imigrar certamente já ouviu uma ou mais de uma dessas três dicas, mas só acaba entendendo o valor delas quando ingressa no mercado de trabalho aqui. Por isso vamos a elas novamente:
Converse e seja amigável com seus vizinhos, com o caixa do mercado, com o entregador, ajude alguém, procure por eventos no seu bairro/cidade e participe deles, ou seja, são infinitas as maneiras de você conhecer pessoas e construir um bom relacionamento com elas. Muitas empresas contratam por recomendação.
Seja preparando um café ou servindo uma mesa, empenhe-se no trabalho. Seus co-workers podem ser boas referências pessoais no futuro e suas habilidades só irão ajudá-lo na hora de pedir uma carta de recomendação.
É um erro muito comum dos mais jovens em survival jobs se atrasar, não prestar atenção aos clientes, ficar de papo com colegas ou até mesmo usar o celular. Quando resolver mudar de trabalho, uma carta de recomendação certamente não será favorável e pode fazer muita falta.
Humildade, força de vontade e disposição para recomeçar são peças chave para quem pretende imigrar. Se por um lado parece desanimador abandonar a posição já alcançada no mercado brasileiro e recomeçar do zero em outro país, a face interessante dessa escolha é a certeza de que os frutos do esforço serão colhidos e saboreados! O convívio com outras culturas, o aprendizado de uma segunda língua e a possibilidade de usufruir de toda a estrutura de um país de primeiro mundo são alguns dos efeitos colaterais de todos que encaram esse desafio!
Por Lia Pereira.
Revisão e atualização por Gabrielle Gentil.
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